Mudanças são difíceis. São necessárias e dolorosas. Mudanças causam desconforto mesmo quando acontecem para melhor. São processos de desapego e troca. As mais complexas são aquelas que acontecem dentro de cada um. Porque até as mudanças de lugar exigem antes uma mudança interna. Somos, por natureza, agregadores. Somos acumuladores. Acumulamos bens, lixos, sentimentos, relações. E quando é preciso mudar nos vemos mergulhados em um emaranhado de coisas inúteis que estão ali pelo simples fato de não termos mexido nelas. E é aí que percebemos o que, ao longo de tanto tempo, não quisemos nos ocupar. Certa vez vi um japonês especialista em alguma coisa que eu não lembro, defendendo uma teoria muito interessante. Pena que não colocamos em prática cotidianamente. Ele dizia que fazer bagunça é perda de tempo, porque em algum momento, as coisas terão que ser arrumadas, então é mais fácil colocá-las sempre em seus devidos lugares. Tão ridículo quanto genial! Tenho certeza de que se fizéssemos disso um hábito, guardaríamos muito menos coisas imprestáveis. O mais absurdo disso é que sabemos o quanto estes objetos nos são inúteis. Porque se valessem alguma coisa já os teríamos trocados por algo que realmente tivesse sentido. Então, por que não os jogamos na lixeira sem dó nem piedade? Acho que temos preguiça de pensar. Vivemos tão focados em coisas que julgamos importantes, que pensar naquele folheto do supermercado nos parece sem razão. E aí, ele fica ali, em cima da mesa ou em um canto qualquer, até o dia em que nos munimos de força de vontade, tempo e uma boa dose de tédio para,enfim, descartá-lo. Se todos os acúmulos que carregamos conosco fossem folhetos de supermercado nem seria tão grave. Os piores tipos são aqueles que não vemos. Não têm uma forma física, não ocupam espaço em casa, mas têm um peso tão grande que são capazes de nos manter imóveis, tamanha dificuldade de nos movermos para além deles. São os acúmulos de relações frustradas, sentimentos negativos e tarefas inacabadas. Por que estes são pesos tão difíceis de tirar dos ombros? Como são muito grandes, vão descendo pelas costas e percorrendo todo o corpo, até chegarem nas pernas impedindo que estas caminhem livremente. É assim que acontece. E da mesma forma que os entulhos que podemos tocar, os intangíveis vão entrando em nossas vidas, endurecendo os músculos e tornando a visão de um céu azul em tenebrosas nuvens de chumbo. Não é de uma hora para a outra, mas como estamos voltados para as "questões nossas de cada dia", vamos deixando a porta aberta, permitindo que isso aconteça. Por isso, quando decidir pela mudança, comece pelas pequenas. Aos poucos provocará uma grande mudança. E se for preciso optar por uma que seja mais radical, não se esqueça antes de se desvencilhar daquilo que não serve.
A vida não precisa de mais peso. O alívio que se sente quando nos livramos do que já não cabe mais em nós é sem tamanho.
Livre-se e seja livre!
Até breve.
A vida não precisa de mais peso. O alívio que se sente quando nos livramos do que já não cabe mais em nós é sem tamanho.
Livre-se e seja livre!
Até breve.