quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sobre as águas...


Falar de Veneza é mais ou  menos o mesmo que falar de Paris. Não que as duas cidades guardem muitas semelhanças, mas porque falar delas é quase como chover no molhado, cair em lugar comum! Todo mundo sabe alguma coisa sobre uma e outra. A maioria tem algum tipo de admiração e, na verdade, muito já foi falado sobre as duas. Mas como também é papel do blog passar as minhas impressões sobre as coisas, achei por bem, então, cumpri-lo.
Cheguei a Veneza de trem. O famoso Frecciargento cruza diversas cidades desde que sai de Roma, traçando um rápido panorama do país. Rápido porque tudo o quanto é permitido é ter um gostinho delas através das estações pelas quais ele passa e rápido porque sua velocidade atinge 240km/h. Desembarquei na estação principal de Veneza e o primeiro pensamento é sobre quanto a cidade é diferente de tudo que já se viu! Saindo da estação dou de cara com o canal, bem ali, na minha frente. Diferente de outras cidades turísticas, as atrações não ficam em ruas principais, concentradas em uma determinada área. A cidade toda é uma atração. É surpreendente uma cidade inteira se movimentar por meio de barcos ou bicicletas. Não há carros em Veneza. Se isso soa óbvio, soa igualmente impensável nos dias de hoje. Logo me deparei com uma das inúmeras pontes que cortam a cidade, todas arqueadas para permitir a passagem das embarcações e gondoleiros que viajam em pé em suas charmosas gôndolas. É bem verdade que Veneza deixa a desejar no aspecto "acessibilidade", já que as pontes têm escadas e apenas duas da que eu vi contam com rampas removíveis, mas certamente não seria igual se não fosse o conjunto de pontes e vielas que compõem o lugar.
Um fato muito curioso aconteceu comigo na chegada à cidade. Assim que deixamos o terminal descobrimos que o hotel ficava exatamente em frente, do outro lado do canal. Carregando a mala pesada comecei a subir a ponte com o intuito de chegar à outra calçada. Ao perceber minha dificuldade em subir os degraus meu marido prontamente começou a subir com as duas malas. Quando chegamos ao topo, tomei novamente a minha mala e comecei a descer as escadas puxando-a, assim como as crianças fazem na saída da escola. De repente, sem que eu esperasse, uma senhora que vinha caminhando enquanto falava ao telefone passou a mão na minha mala. Em um primeiro momento, achei que ela queria me ajudar dividindo o peso para descer a escada. Mas ela, sem desgrudar do telefone um único minuto, começou a descer a mala com uma destreza invejável enquanto eu tentava, em vão, pegá-la de volta. Senti um misto de agradecimento e vergonha por necessitar da ajuda de uma local, visivelmente mais idosa que eu, para carregar minha mala. Por um momento, com meu parco italiano, entendi até ela explicar para a pessoa do outro lado do telefone que ela estava ajudando uma turista a descer sua mala. Terminada a escada ela dirigiu-se a mim com um "Ecco! Arrivederci!" e seguiu seu caminho. Por um instante fiquei com aquela expressão de "Hã? O que foi isso?", mas logo foi substituída pela hospitalidade declarada da dona do hotel. Como uma anfitriã que faz de tudo para que seus hóspedes se sintam em casa assim é ela!
Aliás, como as pessoas que leem o blog gostam de umas dicas de viagem, eu recomendo este hotel em Veneza por várias razões. Em primeiro lugar a acomodação é boa, confortável, apesar de não ser uma suite presidencial. Vale lembrar que os espaços na Europa, em geral, são bem menores do que os nossos habituais. Tem uma boa conexão wi-fi no quarto já incluída. A localização é espetacular! Fica exatamente em frente à estação, o que faz economizar uns bons euros, pois a maioria dos hotéis necessita de barco para acessar e as viagens são bem caras. O café da manhã é completinho e o atendimento é o grande diferencial. A simpatia, o desejo de ajudar e agradar são tão grandes que dá vontade de ficar lá um bom tempo. O nome do hotel é Antiche Figure e é impossível não vê-lo chegando por meio de trem. O endereço é Santa Croce, 686 - Veneza.

Assim começou minha aventura por aquele lugar. Muito ainda havia por descobrir e ainda há muito para contar aqui... foi só o início!

Até a próxima...

PS: Na volta para a estação ferroviária, a caminho de Milão, usei a técnica da senhora que carregou a minha mala escada abaixo. E adivinhe? Não funcionou! (rs)


domingo, 26 de janeiro de 2014

Il Colosseo

Quando soube que a viagem desta vez seria para a Itália minha cabeça foi povoada por um sem número de ideias e pensamentos soltos. Não há como não pensar em identidade quando se trata daquele país. Sendo 50% cidadã italiana, já que tenho dupla cidadania, não há como não ficar empolgada com a possibilidade de sentir na viagem uma sensação de "voltar para casa", ainda que nunca tenha pisado lá. (Será que não?) Mas além da identificação imediata comecei a pensar no tempo, na contagem do tempo. Quando viajamos para lugares históricos no Brasil nos surpreendemos com os duzentos, trezentos, quatrocentos anos que as igrejas ou monumentos têm. Quando viajamos para Paris, Praga ou outra cidade próxima, começamos a falar em oitocentos ou mil anos de existência. Mas na Itália, tomando "emprestada" a história prévia do Império Romano, a contagem passa a outro patamar, (acredito eu!) somente comparado ou superado pela Grécia, Oriente Médio e alguns países da Ásia. Estamos falando de dois milênios ou mais... Quando pensamos nisso não há como não considerar a nossa pequenez diante de um universo inteiro.
Dia desses algumas pessoas comentavam fotos minhas no Facebook, onde questionava-se uma imagem do Coliseu de Roma, "Il Colosseo" para os italianos. Até ver de perto, o Coliseu que eu conhecia era do meu livro de italiano, fotos de turistas ou dos filmes. Obviamente uma obra grandiosa, mas nada que se comparasse ao que ele é de perto. Não falo apenas das dimensões físicas. Interessa muito mais a mim a grandiosidade "não tangível" daquele lugar. É uma mistura de perplexidade e encantamento o que se sente lá dentro. Há quem veja apenas ruínas no lugar de uma arena de dimensões descomunais. Eu vejo além. Recorro a conhecimentos que nem mesmo sei de onde surgiram, buscando em meus arquivos pessoais toda sorte de informações que me auxiliem a compreender melhor tudo o que estou vendo. Cada passo dado lá dentro me transporta para outra era. Não há como precisar o que, de fato, acontecia nos intermináveis anos em que o Coliseu serviu de palco para todo tipo de espetáculo, mas certamente a alma dos que o utilizavam como cenário está ali presente, enchendo de significado cada centímetro daquele grande teatro. Muitos não sabem, mas seu nome é Anfiteatro Flaviano em homenagem ao Imperador que ordenou sua construção, Flavio Vespasiano. Mesmo restando apenas uns poucos resquícios de suas arquibancadas, estima-se que em tempos áureos o Coliseu acomodava mais de 50000 espectadores.
Sim! O Coliseu foi um grande estádio, assim como os que hoje conhecemos sendo palco dos torneios de futebol. Isso há 2 mil anos atrás. Só que ao invés de jogadores, os astros da arena eram gladiadores lutando entre si ou contra animais, em geral felinos grandes como leões. É ou não é digno de estupefação?
É lugar obrigatório estando em Roma, mas é muito importante chegar cedo. O ideal é visitá-lo antes mesmo das 10 da manhã, pois logo após isso criam-se filas intermináveis. O ingresso não precisa ser comprado com antecedência. Custa cerca de 12 euros e vale também para o Foro Romano que fica bem pertinho. Para ir até lá é só pegar o metrô. A estação "Colosseo" fica exatamente em frente ao monumento.

Bom passeio!

Até lá!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Entre Armanis e Michelangelos...


Foro Romano
A memória é cruel, implacável. Dizem que a minha é de elefante, mas ultimamente ela tem funcionado parcialmente. Eu me lembro de fatos detalhadamente, porém estes se misturam entre lugares, datas e outros acontecimentos alheios aos que eu deveria estar processando. Gostaria de ter escrito sobre cada sensação, lugar ou sabor no momento em que foram vividos durante a viagem, mas eu tinha que escolher entre experimentar ou registrar. Quem viaja para lugares tão espetaculares como os lugares que visitei sabe que não há tempo - e muitas vezes energia! - para dar conta de tudo. E entre estas duas coisas, optei por saborear cada minuto de novas experiências que me foram oferecidas. E quase como um pedido de desculpas a você, leitor que me acompanha, deixo aqui registrado que se hoje tenho o que escrever, ainda que de forma confusa e desordenada, é graças a tudo o que testemunhei durante as últimas duas semanas.
Resquícios da Casa de São Francisco de Assis
Ainda ontem, conversando com minha família, discutíamos as atrações que a Europa poderia oferecer durante uma viagem. Eu, particularmente, gosto de lugares que tenham um "quê" de história, não só pelo conhecimento que vá me agregar, mas sobretudo pela alma do lugar. Quando passeio pelas ruas de qualquer cidade europeia, não há como não evocar as memórias de tempos nem mesmo vividos por mim. Quantos outros olhos testemunharam aquelas mesmas cenas, intocáveis, idênticas? Não há como não se impressionar, ao caminhar em um lugar qualquer de Roma, com as paredes que emolduram as ruas celebrando centenas ou milhares de anos. Se as construções são frias, as pessoas que as idealizaram eram de verdade. Casamentos, famílias, nascimentos e mortes foram testemunhados por aquelas paredes. Histórias de amor, de felicidade ou de tristezas e saudades foram encenadas naquele espaço, e é possível sentir esta aura. É por causa dela que vou até lá. A vida é feita de acontecimentos. São eles que fazem a vida ter sentido. Neste ou em qualquer outro tempo é a história de um lugar que me desperta a vontade de conhecê-lo. Lugares estéreis, como já diz o nome, não geram nada. São vazios, ocos, sem cheiro, cor ou movimento. É claro que cada um decide para onde quer ir de acordo com o que busca. É possível, até mesmo, ir para um lugar fantástico e não absorver nada do que ele pode oferecer. Há quem veja Paris como um grande mercado de grifes... e também é! O que determina a tônica do seu passeio é o que você busca. É você quem decide se a Itália é "Giorgio Armani" ou "Michelangelo". Há espaço para os dois. Só não permita que os apelos da modernidade, do consumo e da futilidade se sobreponham à história e a genialidade de nossos antepassados, pois a cidade que conhecemos hoje é resultado de tudo isso!
Palácio de Versailles


Até mais!


domingo, 12 de janeiro de 2014

Heranças...

Coliseu de Roma
Que eu gosto de história e que minhas viagens, em geral, têm o objetivo de explorar a "alma" dos lugares todo mundo que me conhece sabe. Pois nesta viagem, que embarquei há cerca de 10 dias, este gosto tomou outra proporção. Ganhou um caráter mais afetivo do que todas as anteriores e, além disso, a possibilidade de descobrir um tempo que nem as minhas mais remotas intenções poderiam desejar. Se a Europa é conhecida como Velho Continente, o que dizer de Roma, com seu imponente império, outrora tão poderoso e que até hoje guarda resquícios - e relíquias - de sua grandiosidade?
Assis - Perugia
Mais uma vez fico em um impasse... não sei se procuro respeitar alguma ordem cronológica, fazendo com que os fatos tenham mais sentido para mim, ou se vou escrevendo de acordo com a minha vontade e minha memória, independente de quando aconteceu. Só para esclarecer, a jornada desta vez começa na Itália e termina na França. Passa pelas cidades de Roma, Assis, Florença, Veneza, Milão, Como e Paris. Com exceção da última, tudo é novidade para mim, ou quase! Sendo descendente de italianos, passei toda a minha vida ouvindo alguma história de referência italiana e nutrindo, ao mesmo tempo, o desejo de conhecer de perto minhas raízes. E Paris, sendo a minha cidade "queridinha", retorno como quem toma conta do que nem mesmo lhe pertence, só para ver de perto o que andam fazendo com aquilo que lhe é tão caro ainda que alheio aos seus domínios. Neste exato momento, no quarto de um hotel qualquer em Milão, constato tristemente que a viagem já passou da metade do seu tempo. Amanhã embarco para a última etapa já com saudades do que foi visto, vivido, experimentado, degustado... ah! Como se degusta por aqui... ao mesmo tempo que tudo parece tão desconhecido, há um gostinho de casa e coisa conhecida que me remete ao mais íntimo da minha história!
Sou do tipo que aproveita tudo que uma viagem pode oferecer e, geralmente, gosto de tudo! Os momentos ou situações não tão interessantes eu faço questão de esquecer, portanto se me perguntar se um ou outro lugar vale a pena conhecer, sempre vou dizer que vale... ainda que seja para não retornar lá. Mas acho que as visões variam muito e aquilo que eu procuro pode ser diferente do que o outro procura, logo, sempre se ganha alguma coisa visitando lugares. De modo geral vou listar coisas boas e ruins, cuidados a se tomar ou programas que são imperdíveis. O resto fica por conta de cada um. 

Passeio de Gôndola - Veneza

Bem, neste momento é tudo o que posso dizer. Estando curioso para saber mais aguarde os próximos posts... tenho certeza de que não vai se arrepender!

Embarque no próximo trem rumo a esse mundo fantástico!

Arrivederci!