segunda-feira, 16 de julho de 2012

De forno e fogão

Ando em uma fase "mulherzinha". Tudo bem que o diminutivo frequentemente é usado como forma de tornar um termo pejorativo, mas no meu caso, posso dizer que a palavra em questão nada tem de diminuta. A fase a que me refiro é tão somente a vontade de contrariar o que tem sido a minha vida até então - focada no trabalho, e na progressão profissional e acadêmica. Sinto vontade de me dedicar a outras coisas. Compreendo que uma coisa não anula a outra, mas como gosto de fazer bem feito e não tenho muita vocação para ser Mulher Maravilha, devo entender também que algo precisa ser priorizado. No momento, minha vida doméstica. Muito anos 50 para o seu gosto? Talvez sim... talvez não. 
Ando interessada na poesia das coisas. Nos bordados e no lirismo do sonzinho produzido entre colheres e panelas. Dia desses falei, para o estranhamento dos interlocutores, que não havia nada melhor do que lavar roupas no tanque quando se está irritada. Muitas vezes (na maioria delas!) menosprezamos o valor de um bom trabalho braçal, mas posso garantir que mãos em movimento valem mais do que uma meditação, ou talvez o seja, de maneira não convencional. Mãos ocupadas mantêm a cabeça vazia. Como isso é bom!
Voltando às panelas, cozinhar para mim representa alquimia. Representa um contato direto com a essência das coisas. Cozinhar é dar um pouquinho de amor. Cozinhar é um ato de doação. Tanto é que dificilmente dá o mesmo prazer fazer uma comida apenas para si mesmo. Por outro lado, quando estamos tristes, fazer uma comida que nos agrada, conforta quase como dizer a nós mesmos que merecemos sempre o melhor. 
Quero cuidar dos detalhes da minha casa, cuidar do meu amor, como se o mesmo não o fizesse por conta própria. Quero exercitar meu lado caseiro como se isso pudesse resgatar em mim mesma uma conexão que se perdeu há tempos. Quando pequena minhas brincadeiras favoritas se referiam ao fazer doméstico. Adorava bonecas, panelas e comidinhas de mentira. Também gostava dos livros e videogame, mas o que me dizia mais fundo na alma eram as coisas de uma casinha que só existia no meu pensamento. Depois que cresci os aspectos profissionais calaram o resto. A bandeira da revolução feminista fazia meus anseios de outros tempos parecerem sem propósito. Vivi (e vivo diariamente!) minha fase trabalhadora. Agora eu quero mais. Já provei a mim mesma que sou capaz, que faço diferença, que cheguei onde eu queria. Agora quero voltar para casa. Quero voltar para dentro de mim mesma. Buscar lá no fundinho da minha alma quem eu sou de verdade.
Meu momento é este... de panelas, aventais e um irresistível cheirinho de roupa limpa e comida fresca.
Cada um é feliz do jeito que se é... descubra o seu e seja feliz também!

Até mais.

2 comentários:

  1. OI Cris, percebo que esse recesso mexe com nossas habilidades domésticas. Como é bom, depois de um dia inteiro de faxina (fiz uma "daquelas" hoje) deitar no sofá e sentir um cheirinho de limpeza. Depois levantar e preparar uma jantinha fresquinha e ouvir do seu marido que a comida está divina, a casa cheirosa e a arrumação perfeita. Beijos e até a próxima.

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    1. A-ha! Vc entendeu exatamente o que eu estava querendo dizer!!! Não há, realmente, nada mais gostoso do que agradar a quem se ama com o seu trabalho e principalmente receber a recompensa do agradecimento por isso! Bjs

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