quarta-feira, 28 de março de 2012

Câmeras de segurança

Dizem por aí que bom senso e juízo todo mundo acha que tem. É bem verdade que quando avistamos diariamente nas ruas o sem número de atitudes insanas, fica fácil acreditar na veracidade da frase. É um desfile de absurdos tão grande que chegamos a perder a noção do que é certo ou errado. Desculpas para tentar entender o fenônemo não faltam! Em quase todas elas colocamos a culpa em nós mesmos... usamos argumentos como "estou ficando velha!" ou então "ah... eu estou muito intolerante!", mas o fato é que entre o aceitável e o inadmissível, algo se perdeu.
Sou completamente a favor da liberdade de expressão, de pensamento, de conceito. Mas não posso achar normal que as pessoas saiam por aí, da forma como bem entenderem, "esfregando na nossa cara" o que elas querem fazer... sem qualquer critério. Isso porque fere o meu direito de não querer participar de algumas coisas.
Não sei dizer de quem é a culpa, mas certamente ela existe. Acho até que é um pouquinho de todos nós. Os pais, que em muitas situações abandonaram o seu dever de cuidar e educar. A sociedade que em nome de uma pretensa liberdade se faz conivente com tudo o que acontece sem, para isso, mover um único músculo na tentativa de vigiar e punir. A escola que visando a instrução permanece inerte na tarefa de formar. Em favor da autonomia criamos pessoas sem noção. O modelo disciplinar de outrora nos foi tirado e em seu lugar foi colocado... não foi colocado! O problema está aí. Criticamos a forma rígida de educar, mas não implementamos algo que, de fato, pudesse trazer autonomia. Autonomia essa que representa a capacidade de se auto-governar. De fazer o que é certo sem que ninguém precise lhe dizer. Dia desses ainda escrevi no facebook - como um prenúncio desse post -  um trechinho da letra da música do Capital Inicial que diz: "O que você faz quando ninguém te vê fazendo...". E é bem por aí. Quando vigiados, agimos corretamente; quando viram as costas, fazemos tudo diferente. Algumas dessas atitudes, é bem verdade, não interferem no coletivo, já outras...
A crise moral que assola a nossa sociedade é tão evidente que já existem comerciais de televisão tentando mostrar que vale a pena ser bom e agir corretamente. Ora, se é preciso lembrar as pessoas disso, é sinal de que está tudo errado, concorda?
Hoje, por exemplo, estava indo para o trabalho e passei por uma via secundária, como faço sempre. A estrada é linda! Cheia de árvores e conservando o calçamento de paralelepípedos, que para dirigir é péssimo, mas esteticamente tem seu charme. Entretanto, apesar de estreita, esta rua recebe o tráfego de ônibus e caminhões, o que torna um pouco mais díficil passar por ali. Pois eu estava subindo a rua quando vi que um ônibus escolar estava atravessado na pista impedindo a passagem. Parei, liguei o pisca-alerta para sinalizar a quem viesse. Não é que um motorista me ultrapassou como se eu o estivesse atrapalhando? Meu Deus! Será que ele não viu que o trânsito estava impedido? A sua sorte é que eu, vendo que o ônibus teria que manobrar, parei com bastante distância e o motorista incauto pode colocar o seu carro na frente do meu, mas a sua atitude poderia ter causado um acidente se as condições fossem diferentes. Aí eu fico pensando no que passa pela cabeça de uma pessoa para que ela aja desse jeito. O problema não é a atitude, mas o pensamento que levou a ela. Que direito esse motorista pensa ter para se julgar melhor e ter o privilégio de passar a frente? Outra situação que me deixa indignada, também no trânsito, é quando a pista afunila, os carros se amontoam buscando espaço e os espertinhos vem fazendo fila dupla certos de que alguém os deixará entrar mais a frente. Que direito lhes assiste? Fico revoltada...
Há quem pense que o problema é de punição, ou da sua falta. Acho mesmo que o problema é de educação. De formar nossa população de modo que cada um tenha consciência de seu papel, do quanto suas ações implicam e são implicadas pelas ações dos outros. Esses dias tive, inclusive que tomar uma atitude. Adolescentes praticando bullying, livremente, pela internet. Por acaso eu tenho a mesma relação de afeto com os praticantes e a vítima. O grupo em questão publicou uma foto da colega no facebook sem autorização. O que me assusta é a inconsequência dos atos. Estou certa de que a intenção - e é melhor pensar assim! - era a de fazer apenas uma brincadeira. O problema é que toda ação gera uma reação (isso bem aprendemos nas aulas de Física) e não pensar no retorno das atitudes faz com que aquele que age, o faça deliberadamente.
Está cada vez mais difícil encontrar pessoas que saibam que a moral não é elástica. Que aquilo que vale para um, deve valer para todos. Que não importa se sendo vigiado ou não, tenha a capacidade de fazer o que é certo.
...
Que as crianças do futuro já nasçam com suas próprias câmeras de segurança.

Até!

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