segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O mágico poder do não

Insubordinação. Gosto desta palavra. Tenho usado-a com certa frequência. Detesto seu emprego enquanto atitude. Sou do tipo que questiona, reivindica, reclama. Mas também sou a pessoa mais obediente que existe. Ser obediente não é dar razão a quem manda. É entender que mesmo não concordando naquele momento não é você quem manda. Obedecer é uma questão de respeito. A insubordinação, para mim, é uma ação, nem sempre verbal, de mostrar ao outro que não se submete ao seu poder, ou, em outras palavras, que se é mais importante do que aquilo que vem do outro. A insubordinação acontece em vários níveis diferentes e é o simples ato de não legitimar a posição de quem dá as ordens. 
Uma situação que me causa profunda indignação e exemplifica bem o que eu estou dizendo é uma cena que eu tenho visto nos últimos tempos com mais frequência do que há tempos atrás. O avião para e a comissária informa aos passageiros que só poderão levantar de seus assentos e pegar seus pertences quando apagado o aviso dos cintos, pois só assim se chegou ao destino final da aeronave. O mesmo se aplica aos celulares, que só devem ser ligados no saguão do aeroporto. O que acontece? Mal o avião toca o chão, todos os passageiros se apressam em levantar para ter o privilégio de sair em primeiro lugar. Ligam seus celulares e , por conta própria, abrem os bagageiros buscando finalizar rapidamente a tarefa.  Ora, ora, não ficou claro o aviso dado? Alguém não entendeu o recado? Das últimas vezes em que presenciei esta cena a comissária viu-se obrigada a avisar novamente e advertir os passageiros que descumpriram a regra. Mas o que é isso afinal? Um caso claro de insubordinação. 
Hoje vivi uma situação dessas. Fiquei, certamente, muito mais aborrecida do que os desobedientes em questão. A história me deixou tão incomodada que cheguei até mesmo a questionar se o meu tempo em sala de aula já não estaria vencendo. Avisei na última aula que hoje eu passaria um filme e que por conta disso, os alunos não deveriam se atrasar. O filme era bacana, do tipo comercial, que interessaria a eles. Hoje cheguei antes do horário da aula, encontrei uns dois ou três alunos pelo caminho e reforcei a solicitação. Mostraram-se compreensivos da necessidade de tal pedido e eu aguardei até o momento de ir para a sala. No horário marcado ninguém apareceu na porta. Fui até a responsável pela chave do salão, encontrei mais uns e outros, que só de me verem por ali, já deveriam ter ligado o desconfiômetro e ido para o local combinado. Subi novamente, já com a chave, e apenas metade da turma estava a minha espera. O que eu fiz? Simplesmente proibi a entrada dos que vieram atrasados. Devo confessar que doeu meu coração. Acabei me sentindo meio mãe que, diante da "palmada", sente mais as dores que o próprio filho. Como doeu em mim não poder permitir que os alunos entrassem! Como doeu em mim ter que dizer aquele não. É bem verdade que eu estava muito irritada no momento, mas a questão é que me agride o fato de proibir alguém de aprender um pouco mais, de participar de um momento tão enriquecedor. Uma coisa, apenas, me deixa intrigada: a falta de percepção da perda. Nenhum comentário, reclamação ou cara feia no corredor mais tarde. Fico assustada com a apatia que faz parecer tudo uma grande bobagem. Tenho certeza de que a atitude de hoje não se encerrou ali. Isto precisa ser trazido à tona, para que possam entender o tamanho e o significado da minha atitude.

O que eu espero, de verdade, é que o "não" de hoje possa resultar em uns minutos a mais na cadeira do avião que acaba de pousar...

Até!

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