sexta-feira, 13 de abril de 2012

Faixa de pedestre, uniforme, cabelo...

Parei na faixa de pedestre. De um lado da rua uma escola. Do outro, alunos que cruzavam a faixa para ir até ela. Fiquei observando os adolescentes de seus 13 ou 14 anos que vinham conversando, carregando suas pesadas mochilas cheias de materiais e, certamente, de muitas incertezas. Automaticamente me remeti ao tempo em que eu também era uma adolescente dessa idade. Tentei me ver naqueles rostos quase infantis e me lembrar dos conflitos que povoavam minha cabeça naquele momento. Uma menina saiu do carro à minha frente. Colocou a mochila sobre os ombros e ajeitou a trança mal feita, bem ao estilo da moda atual, antes de verificar se já podia atravessar. Tento pensar em como terá sido o seu início de manhã antes de ir para a escola. O rosto "amassado" pela noite de sono não mostra suas marcas pela generosidade da juventude. O cabelo com sua vida própria, arrepiado e meio desajeitado pelo travesseiro, talvez até fosse o motivo daquela trança. A roupa que provavelmente não era a que ela gostaria de estar vestindo, mas que por uma determinação do sistema e, convenhamos, da impossibilidade de pensar em algo melhor para a ocasião, servia como uma luva.
Como eu era na época de escola? Quais eram as "agruras insuportáveis" que eu vivia naquela época? O medo da rejeição, a timidez, a dificuldade em me concentrar no que era falado pelo professor quando tinha amigos tão legais para conversar e, por que não dizer, um menino tão bonitinho na fileira ao lado...
Lembro apenas nos percalços vividos no dia-a-dia, coisa que muitos dos adolescentes de hoje não experimentam, em virtude das mudanças. Nós íamos de ônibus carregando nossos trabalhos em cartolinas enroladas, levávamos merenda ou um dinheirinho para comprar um refrigerante que acompanharia o sanduíche de queijo trazido de casa. Como as coisas eram difíceis!
Volto a observar a escola do outro lado. Uma outra menina entra pelo portão, visivelmente curvada como se fosse possível esconder-se de si mesma. Uma franja muito lisa cobre sua testa. Franja esta que deve ter levado algum tempo e muitas batidas na porta do banheiro até que ela saísse perfeita. Um casaco completa o disfarce. Sua seriedade denota que hoje é um dia importante. Talvez o dia de uma prova ou da resposta daquele menino sobre ir à festa no sábado...
Como são importantes os conflitos da juventude. Como banalizamos o que eles sentem! Nos julgamos superiores porque temos "problemas de verdade", porque já vivemos tudo isso e porque os assuntos fundamentais de outros tempos não eram assim tão fundamentais. Amadurecemos e isso faz parte do ciclo natural da vida... ainda bem! O que eu lamento é perder a inocência que fazia parecer que todos os problemas do mundo se resumiam a festas, provas, franjas e beijos.
(...)
A esta altura, a menina da trança e a menina da franja estarão ao telefone contando, uma à outra, sobre seus pais que acham que tudo em suas vidas é bobagem, mas no fundo o que importa mesmo é se aquele vestido favorito vai ficar bom para encontrar com ele no sábado.
Vida que segue!

Até.

10 comentários:

  1. "O que eu lamento é perder a inocência que fazia parecer que todos os problemas do mundo se resumiam a festas, provas, franjas e beijos."

    Sabe que eu também... E eu achava que era problema de verdade... Mas temos que amadurecer, é a vida mesmo. Mas a juventude, ahh... que saudades.

    Show sua observação com essas meninas. Posso imaginar "a cara" delas pela manhã. ihiuhiu...

    Ps: Estou ficando viciada nos seus posts. hiuhiuih...

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    1. É, Carla... é isso o q eu lamento. Lamento ainda mais o fato dessas meninas não saberem que esses problemas têm data marcada para serem substituídos por outros!
      Obrigada pelo elogio e pela frequÊncia a esse "nosso" espaço... que bom saber que vc se viciou nos textos... é o melhor presente q eu poderia ter! bjs e apareça sempre...

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  2. Adoreiiiiii o texto! Olhar da "janela" o que já fomos, traz muitas sensações boas e também, uma reflexão séria sobre como percebemos a vida, as "dificuldades" desses jovens de hoje!
    Uma vez, li um texto sobre que memórias traziam as lembranças do portão da escola... Um cara, depois de adulto, passou em frente a escola que havia estudado e parou para observar os jovens que ali estavam. Muito parecido com a sua observação! A diferença é que ele olhava para os rostos amassados, franjas, tranças e tentava adivinhar em que se tornariam dali a dez anos.

    Pois é, o tempo passa e um dia a gente percebe que já não é o mesmo... Inclusive, percebe que também não é mais o primeiro a comentar os textos do seu blog preferido... E que é alertado o tempo todo de que o status de fã número 1, que mais acessa, corre risco... Vida que segue! Rsrsrs

    Beijocas!

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    1. Ai, Patricia... morri de rir com o final do seu comentário...rs...
      Eu gostei de escrever esse post, pq ele foi fruto de uma experiência q eu tinha acabado de vivenciar... foi um recorte da realidade, uma imagem congelada que me fez ver algumas coisas... quase em câmera lenta! Se vc encontrar o texto que vc citou eu gostaria de ler...

      E qto a vc, será sempre a primeira seguidora, e aquela que me incentivou a criar este espaço... isso ninguém tira de vc, mesmo q coloquem mto mais comentários... kkkk

      bjs

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  3. Chorei...pra variar!!!! Gostaria de todos esses textos, impressos, escritos bem pertinho de mim, para que eu pudesse tê-los CONCRETAMENTE à minha mão (sou antiga, preciso do papel, rsrsrs). Parabéns! (me lembrei do Marcelo agora!!!! rsrsrsrs)

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    1. Vamos por partes... em alguns textos eu tb choro, mas não era o caso desse... rs... foi uma observação realmente despretensiosa que aconteceu em uns poucos segundos. Nao sei se chorou pela sua adolescência ou se pela dos seus filhos que está por vir... em breve! rs
      Não entendi a relação do Marcelo aí...rs... mas deve ser mais uma das suas histórias engraçadas! rs
      Adorei o comentário e estou começando a pensar na ideia de colocar as ideias verdadeiramente no papel... tanta gente tem me dito isso... devo admitir que vc foi a primeira delas, mas não a única... q bom q gostou! bj

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  4. Caraca, me vi nessa menina de trança....e pra variar super descabelada! rsrsrs

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    1. kkkk... só vc mesmo, Marcela!!! O q eu fico pensando é no tanto de tempo que ela deve ter gastado até decidir se fazia a trança ou não... rs

      bj

      ps.: A sua foto finalmente apareceu no comentário! êêêêê

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  5. QUE DELÍCIA DE TEXTO AMIGA, NESSE VC. SE SUPEROU... ESTOU AQUI LHE RENDENDO PALMAS DE PÉ!!! BJS. VANESSA

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    1. ah, amiga, q bom q gostou... apesar da gente ter se conhecido um pouquinho depois dessa idade, achei q tinha a ver com as coisas que a gente vivia! Talvez pq sejam questões mto próprias da adolescência mesmo, né? rsrsrsrs

      bjs

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